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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Balido.

Balido.


Reescreve tua história de pureza.
Perder o rumo do bem natural,
O nascente dom do bem.
Quando com muito amor,
Reaprendemos o bem fazer.
Perdida inocência,
De nunca mais cândidos.

Sinais do tempo,
Brindam-nos com negatos contamíneos.
Seres de luz e pureza,
Tem no mundano breve validez.
Mas não seu legado,
Contribuído em somas.
Legados foram deixados,
Não percebidos,
Não contemplados.

Assola-nos o deboche insensato,
Do risonho moderno
Bem de camufla branca.
De retórico e bizzaro,
Saturações de desenvolvimento
Corrosivo.

Almas cansadas dos mundos,
De impercepções dos obsoletos,
De tentar fazer, criar sem alma,
Corpo, coração e todo mais
Amor, simples amor.

Esperança, certeza e fé.
Não nos resta.
Nunca restará como derradeiro.
Somos feitos de esperança,
Certeza, fé e amor.

Rolar de seres como
Pedras em águas,
A pressa das águas.
Cultivo de dureza e rigidez,
Natural proteção impactual.
Resultados lentos
Da polidez do ser.

Parar, unir, amolecer.
Caminhar lentos, juntos.
Cultivar o calor de união.
Polir e cuidar com carinho,
A nós em simples união.
Em amor.
O simples amor.


(Jonathan Freitas)

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A Carlos Drummond de Andrade.

A Carlos Drummond de Andrade - João Cabral de Melo Neto


Não há guarda-chuva contra o poema
subindo de regiões onde tudo é surpresa
como uma flor mesmo num canteiro.

Não há guarda-chuva
contra o amor
que mastiga e cospe como qualquer boca,
que tritura como um desastre.

Não há guarda-chuva
contra o tédio:
o tédio das quatro paredes, das quatro
estações, dos quatro pontos cardeais.

Não há guarda-chuva
contra o mundo
cada dia devorado nos jornais
sob as espécies de papel e tinta.

Não há guarda-chuva
contra o tempo,
rio fluindo sob a casa, correnteza
carregando os dias, os cabelos.


(João Cabral de Melo Neto)

Texto extraído do livro "João Cabral de Melo Neto - Obra completa", Editora Nova Aguilar - Rio de Janeiro, 1994, pág. 79.

Cura e oração.

Cura e oração.


Trincheiras,
Refúgio dos mortos.
Redenção de sedentos.
Nem nosso nome foi guardado.
Lápides apagadas,
Símbolos e destroços.
Rios secos de vidas submersas.
Pó do tempo,
Acumulo de fatos desejos.
Perda sensorial por
Buscas e sonhos.
Poder abrasivo da própria vida.
Retinas cerradas a luz.
Horas que passam.
Velho passado nunca visto.
Seres, jornadas adormecidas
Na temporal perda.

Oremos juntos.

Despertemos os puros,
Seres encantados.
Plenitudes de perfeição.
Molhem nossas bocas sedentas.
Ensinem-nos nossos segredos.
Tornai-nos eternos como antes.
Matem nossa fome.
Faça-nos adormecer de nossa insônia.
Beijem nossas frontes em benção,
Em pretérito saber.
Afaga-nos com tuas mãos,
Reconferindo-nos o simples amor.
Acalenta-nos na paz do colo,
Em simples dormir de sonhar.
De certa a felicidade.
Em apenas preocupar
De gérmenes de feijão
No macio branco algodão.
Encham nossas mãos
Com vossas sementes.
Dai-nos nova chance,
Rebuscaremos terras férteis,
Não mais espinhos, areia ou rochas.
Onde ilusionamos semear.
Doutrina-nos com tudo que esquecemos,
Que perdemos,
Que deixamos.
Devolvei nossas inocências,
Nossas purezas,
Nossos pequenos mundos.
Ensina-nos a essência de vida.
Faça-nos eternos como outrora.
Doces anjos.
Pequenas crianças.


(Jonathan Freitas)

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Seus cantos meu encanto.

Seus cantos meu encanto.


Casa do canto
Canto de casa
Meu canto
Sonoro canto
Canto calado
Canto sem canto.

Canto ao vento
Cantar por cantar
Sento no canto, e canto
Passarinhos me ouvem
Dança de borboletas
Dança de vento flores e folhas.

O canto da chuva
Canto de sol
Canto escuro
Canto de água
Canto do mar
Tombo cantando.

Canto de músicas
Canções...
Primeira canção
Do carinho da pele do umbigo
De ninar de embalar
De aconchegar.

E de todo tempo canto
De todo tempo canções
De formas cantos guardar
Ocasiões de canto
Que de espaço não lamenta
Nem de esquecer.

Cada momento de novo canto
Carinhosamente postado
Ou largado ao vento
Eterno vagar de cada canto
Para simplesmente orbitar
Ou acolhido em atenção.

Não haverá o último
O choro por meu sorriso
Derradeiro sorriso...
Não encerrará o canto do pulso
E novas canções se farão
Dos cantos vividos.


(Jonathan Freitas)

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Brisa

Brisa.


Acho que me recordo de você,
Meio que de dentro,
Parece muito tempo,
Mas foi ontem...
Lembro-me de uma explosão,
Muito forte,
Contundente...
Sentimentos e emoções
Revoltos no tempo...
Tempo passado
Como água entre os dedos.
Sem sentido de perda,
Sentido de maturação natural.
Tempo e suas travessuras.
Surpresas esquinais...
Guardar sem intenção,
E por simples recordação
Vivenciar na dimensão
De desejos paralelos nos platos
Do suposto remoto impossível
Aos presentes olhos querentes.
Pequenos blocos lembranciais
Adormecidos, flutuantes
Em liquefeitos viveres passados.
Despertos em diversidades
Temporais de momentos...
Até que se acalme em brandura,
Afundando em infra-memória da alma.
Sem saber o tempo,
Da instável chegada
Das mudanças...
Basta-me te sentir
Na música que compomos,
E sopramos no vento
Infinito universal...


(Jonathan Freitas)

Poema de sete Faces - (Carlos Drummond de Andrade)

Poema de sete faces.

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.


(Carlos Drummond de Andrade)

domingo, 26 de dezembro de 2010

Simples assim.

Simples assim.


O resto dos dias são simples e lindos,
Pouco mais que quase nada irá me surpreender.
Os dias são quase sempre iguais.
Temo por cobrar-me mais.
Adaptar-me-ei com certeza às novas de encontro.
Foi sempre assim.
Por isso tudo,
Por menos um pouco,
E também por quase nada,
Me continuo assim, vivo, vivendo.
Não pode ser diferente,
Num desisti...
Por vezes difícil é motivar a causa.
Coisas se modificam sozinhas,
Ainda que por breve pare,
Segmentos naturais se dão,
E no mais breve inesperado,
Revoluções se dão.
Simples assim de viver feliz.
Cabe-me o capricho dos adornos de alegrias.
Melhoramentos na natural condição
De feliz viver.
Simples assim...


(Jonathan Freitas)